Pela manhã, lá estava ela. E da cama me levantei, enquanto o chuveiro já estava ligado, se não tomo cuidado me perco quando olho no espelho, pois já não pareço ela. Ofereci café, mas recusei. Esperamos o almoço. Enquanto lançava planos categóricos pro dia, eu já me afundava em enfado. Não quis acompanhar-me e nem ajudar na escolha das filas, mas me aguardou sentada na sacada, com uma sarda à mais sob o Sol. E entre quatro paredes brancas, abro armário com blusas jogadas e amanhecidas por ela; empilho uma à uma enquanto tira e joga as meias, colocando os pés no tapete de canto; sentadas em uma cama sobre a outra, disputando o lado esquerdo, é que revelou uma conversa sobre nós; rimos da semana passada e sobre amores tolos; e concordamos que aos quinze era apenas uma garota, enquanto contava as marcas de diferentes tonalidades na pele, já não se sabe qual o grau de primaveras feridas, mas que resquicios foram suficientes pra tornar-nos justas. Resolvemos não ligar o som, pois o silêncio era evidente depois das 23hs, suficiente pra encontrarmos algo só nosso e com medo de perder o som dos sonhos. Com os pés virados pro mural, me encontrei em fotos; em grupo, em pé, sentadas, num canto, sozinha, sorrindo, de óculos escuros, com bordas, preto e branco, e ela. E com a câmera na mão é que faço um auto retrato de uma visão, da nossa visão: da maneira como o mundo lá fora reage aqui dentro, dos amigos que foram e que serão, dos inimigos, do erro cometido semana passada e do acerto no ano que vem.
Ela se sente bela, apesar de uns quilos à mais, e eu numa espera. Eu sou ela, e ela sou eu mesma por mim. É só quando me encontro com ela que eu me encontro também.
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