23 setembro, 2008
Lonely - Yael Naim
You are not alone
I am here with you
Even when you're scared
I'll never leave you
Standing in a storm
Making it insane
Once again, I would try
To enchain you
But you open your eyes to the sky
and whisper
[Chorus]
That you are so lonenly
You are so alone
You're so alone
You're so lonely, so lonely
So I'm colouring my face
While I am here with you
Imagining the landscape of your sorrow
Is it yellow or blue?
Colouring the sky, and the threes
and the clouds, and the moonlight
I'd coloured your heart
If you didn't I did
[Chorus]
And I wish you could just find home.
12 setembro, 2008
04 setembro, 2008
Murakami #1
[aperte antes o play]
(...)“Por outro lado há pessoas que sentem atraídas pela minha Sensatez. São poucas. Mas elas existem. Elas e eu somos como dois planetas que gravitam na escuridão do espaço, naturalmente se atraindo e se repelindo. Elas vêm à mim, relacionam-se comigo e um dia vão embora. Elas se tornam amigas. Em certas situações elas se tornam oponentes. De qualquer forma, todas acabam se afastando de mim. Algumas desistem, outras se decepcionam, outras silenciam e acabam indo embora. No meu quarto existem duas portas. Uma é a entrada e a outra é a saída. Não há como confundi-las. Não se pode entrar pela saída, nem tampouco sair pela entrada. É algo definido. As pessoas entram pela porta de entrada e saem pela porta de saída. Há diversas maneiras de entrar e de sair por elas. Mas, independente do modo como entram e saem, no final todas acabam saindo. Uma pessoa saiu para tentar uma nova possibilidade, a outra para não perder mais tempo e a outra morreu. Não sobrou ninguém. Dentro do quarto não há ninguém. Somente eu. Sempre tenho consciência da falta que sinto dessas pessoas. Destas que se foram. Percebo que suas palavras, sua respiração e seu cantarolar ficaram impregnados na casa como partículas de pó.
Provavelmente elas conseguiram enxergar uma imagem pouco distorcida do que sou realmente. Esse deve ser o motivo pela qual elas se aproximam de mim e depois se afastam. Elas reconheceram meu esforço de ser sincero – não consigo encontrar outra explicação – e procuraram acreditar nele. Tentaram me dizer algo e fazer com que eu abrisse o coração. A maior parte dessas pessoas era dócil e carinhosa. No entanto, nada pude lhes oferecer. Mesmo que eu pudesse lhes oferecer algo, esse algo parecia insuficiente. Sempre me esforcei para dar o melhor de mim. Tudo que pude fazer eu fiz. Eu também desejava algo delas. Mas, no final das contas, nada dava certo. E, assim, partiram."
Do livro Dance, dance, dance - Haruki Murakami
A leitura desse trecho acaba tendo um acabamento primoroso quando acompanhada da música [vide vídeo abaixo]: Solitude#2, do compositor e instrumentista contemporâneo Ryuichi Sakamoto, que faz parte da trilha sonora do filme "Tony Takitani", que é uma adaptação do livro de mesmo nome, do Haruki Murakami. Mas aí já é uma outra história. E independente de citar e misturar as obras, Murakami tem sempre sua peculiaridade, aquele sabor reconhecível quando se trata de uma narração num mundo bizarro, dos amores efémeros e claro, da solidão, o que me encanta e só torna minha apreciação e rendição pelo seu trabalho, cada vez mais, num patamar elevado.
(...)“Por outro lado há pessoas que sentem atraídas pela minha Sensatez. São poucas. Mas elas existem. Elas e eu somos como dois planetas que gravitam na escuridão do espaço, naturalmente se atraindo e se repelindo. Elas vêm à mim, relacionam-se comigo e um dia vão embora. Elas se tornam amigas. Em certas situações elas se tornam oponentes. De qualquer forma, todas acabam se afastando de mim. Algumas desistem, outras se decepcionam, outras silenciam e acabam indo embora. No meu quarto existem duas portas. Uma é a entrada e a outra é a saída. Não há como confundi-las. Não se pode entrar pela saída, nem tampouco sair pela entrada. É algo definido. As pessoas entram pela porta de entrada e saem pela porta de saída. Há diversas maneiras de entrar e de sair por elas. Mas, independente do modo como entram e saem, no final todas acabam saindo. Uma pessoa saiu para tentar uma nova possibilidade, a outra para não perder mais tempo e a outra morreu. Não sobrou ninguém. Dentro do quarto não há ninguém. Somente eu. Sempre tenho consciência da falta que sinto dessas pessoas. Destas que se foram. Percebo que suas palavras, sua respiração e seu cantarolar ficaram impregnados na casa como partículas de pó.
Provavelmente elas conseguiram enxergar uma imagem pouco distorcida do que sou realmente. Esse deve ser o motivo pela qual elas se aproximam de mim e depois se afastam. Elas reconheceram meu esforço de ser sincero – não consigo encontrar outra explicação – e procuraram acreditar nele. Tentaram me dizer algo e fazer com que eu abrisse o coração. A maior parte dessas pessoas era dócil e carinhosa. No entanto, nada pude lhes oferecer. Mesmo que eu pudesse lhes oferecer algo, esse algo parecia insuficiente. Sempre me esforcei para dar o melhor de mim. Tudo que pude fazer eu fiz. Eu também desejava algo delas. Mas, no final das contas, nada dava certo. E, assim, partiram."
Do livro Dance, dance, dance - Haruki Murakami
A leitura desse trecho acaba tendo um acabamento primoroso quando acompanhada da música [vide vídeo abaixo]: Solitude#2, do compositor e instrumentista contemporâneo Ryuichi Sakamoto, que faz parte da trilha sonora do filme "Tony Takitani", que é uma adaptação do livro de mesmo nome, do Haruki Murakami. Mas aí já é uma outra história. E independente de citar e misturar as obras, Murakami tem sempre sua peculiaridade, aquele sabor reconhecível quando se trata de uma narração num mundo bizarro, dos amores efémeros e claro, da solidão, o que me encanta e só torna minha apreciação e rendição pelo seu trabalho, cada vez mais, num patamar elevado.
01 setembro, 2008
Mãos
Constítuidas por vinte e sete ossos e dois conjuntos de músculos cada uma. Através delas que evoluímos, comunicamos, modificamos o ambiente, a nossa história.
Dos mais variados encontros - de um íntimo ou até de um passageiro - e depois de um tempo observando, é das mãos que eu acabo recordando. E nem acredito na possibilidade de Joey Tribbiani ter encontrado seu "identical hand twin" em Las Vegas, pois as mãos tem seus detalhes em entalhes, a personificação que me faz associar até mãos sem rostos, mãos sem bolsos.
Mãos pequenas, mãos serenas; maciez ou rugas do tempo; manchas e cortes; unhas arredondadas ou achatadas, numa pintura impecável ou roídas, sem unha ou compridas; cúticulas empurradas ou intactas; calos marcados pelo esforço, ou da infância de escritas em cadernos de caligrafia; dedos longos, dedos gordos, com adornos de promessas ou enferrujados no tempo.
Mãos, que pintam sobre telas memóraveis ou salvam vidas ensanguentadas; que fazem daquele instrumento a lembrança de uma vida embalada; que se juntam numa oração ou numa cantiga de roda; que vertem líquidos evidênciando a ansiedade por uma notícia ou pelo beijo em um banco de cinema; que esfriam xícara no inverno ou esquentam pélvis no prazer; oferecem lenços e até limpam os borrões nos olhos; que são acorrentadas por justiça ou por fetiche; que adormecem e sentem formigas percorrerem e aquele estranhamento como se elas não fossem suas; que seguram sacolas arrebentadas ou crianças cansadas; que se fecham num primeiro contato com o dedinho do irmãozinho ou com a areia da beira molhada; que acenam encontros ou despedidas numa esquina.
Mãos, com seu próprio senso de denuncia, nos gestos da verdade, entre toques e idade.
Mãos que machucam, ofendem, provocam, seguram... Mas é das mãos que levantam-me de um tombo ou afagam-me a face e os cabelos, que recordo-me muito bem, fazendo do toque, o embalar de uma feliz e eterna anestesia.
Mãos ao redor
E você, conseguiria reconhecer-se em mãos? E o que elas fizeram até então?
Dos mais variados encontros - de um íntimo ou até de um passageiro - e depois de um tempo observando, é das mãos que eu acabo recordando. E nem acredito na possibilidade de Joey Tribbiani ter encontrado seu "identical hand twin" em Las Vegas, pois as mãos tem seus detalhes em entalhes, a personificação que me faz associar até mãos sem rostos, mãos sem bolsos.
Mãos pequenas, mãos serenas; maciez ou rugas do tempo; manchas e cortes; unhas arredondadas ou achatadas, numa pintura impecável ou roídas, sem unha ou compridas; cúticulas empurradas ou intactas; calos marcados pelo esforço, ou da infância de escritas em cadernos de caligrafia; dedos longos, dedos gordos, com adornos de promessas ou enferrujados no tempo.
Mãos, que pintam sobre telas memóraveis ou salvam vidas ensanguentadas; que fazem daquele instrumento a lembrança de uma vida embalada; que se juntam numa oração ou numa cantiga de roda; que vertem líquidos evidênciando a ansiedade por uma notícia ou pelo beijo em um banco de cinema; que esfriam xícara no inverno ou esquentam pélvis no prazer; oferecem lenços e até limpam os borrões nos olhos; que são acorrentadas por justiça ou por fetiche; que adormecem e sentem formigas percorrerem e aquele estranhamento como se elas não fossem suas; que seguram sacolas arrebentadas ou crianças cansadas; que se fecham num primeiro contato com o dedinho do irmãozinho ou com a areia da beira molhada; que acenam encontros ou despedidas numa esquina.
Mãos, com seu próprio senso de denuncia, nos gestos da verdade, entre toques e idade.
Mãos que machucam, ofendem, provocam, seguram... Mas é das mãos que levantam-me de um tombo ou afagam-me a face e os cabelos, que recordo-me muito bem, fazendo do toque, o embalar de uma feliz e eterna anestesia.
Mãos ao redor
E você, conseguiria reconhecer-se em mãos? E o que elas fizeram até então?
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