01 setembro, 2008

Mãos

Constítuidas por vinte e sete ossos e dois conjuntos de músculos cada uma. Através delas que evoluímos, comunicamos, modificamos o ambiente, a nossa história.

Dos mais variados encontros - de um íntimo ou até de um passageiro - e depois de um tempo observando, é das mãos que eu acabo recordando. E nem acredito na possibilidade de Joey Tribbiani ter encontrado seu "identical hand twin" em Las Vegas, pois as mãos tem seus detalhes em entalhes, a personificação que me faz associar até mãos sem rostos, mãos sem bolsos.
Mãos pequenas, mãos serenas; maciez ou rugas do tempo; manchas e cortes; unhas arredondadas ou achatadas, numa pintura impecável ou roídas, sem unha ou compridas; cúticulas empurradas ou intactas; calos marcados pelo esforço, ou da infância de escritas em cadernos de caligrafia; dedos longos, dedos gordos, com adornos de promessas ou enferrujados no tempo.
Mãos, que pintam sobre telas memóraveis ou salvam vidas ensanguentadas; que fazem daquele instrumento a lembrança de uma vida embalada; que se juntam numa oração ou numa cantiga de roda; que vertem líquidos evidênciando a ansiedade por uma notícia ou pelo beijo em um banco de cinema; que esfriam xícara no inverno ou esquentam pélvis no prazer; oferecem lenços e até limpam os borrões nos olhos; que são acorrentadas por justiça ou por fetiche; que adormecem e sentem formigas percorrerem e aquele estranhamento como se elas não fossem suas; que seguram sacolas arrebentadas ou crianças cansadas; que se fecham num primeiro contato com o dedinho do irmãozinho ou com a areia da beira molhada; que acenam encontros ou despedidas numa esquina.
Mãos, com seu próprio senso de denuncia, nos gestos da verdade, entre toques e idade.
Mãos que machucam, ofendem, provocam, seguram... Mas é das mãos que levantam-me de um tombo ou afagam-me a face e os cabelos, que recordo-me muito bem, fazendo do toque, o embalar de uma feliz e eterna anestesia.


Mãos ao redor

E você, conseguiria reconhecer-se em mãos? E o que elas fizeram até então?

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