19 janeiro, 2009

Férias e um copo cheio de saudade

(...) a leitura da ponta dos dedos; o resmungar do nariz; os fios de cabelo bagunçados com a inquietude sobre o travesseiro; a meia luz da noite e a meia luz do dia que invadem o quarto pelas frestas; os golpes precisos; os músculos enfraquecidos; o estalar dos ossos; os risos não contidos; o entregar aos embaraços; as manhãs de domingo; o encarar sério tentando vencer pelo cansaço e pelo entregar de sorrisos; a face afundada no decote, enganando o rubor da timidez; as melodias que embalam a intimidade; os acordes que remetiam a partida; a falta de ar debaixo d’água; a falta de ar com pernas trêmulas e a falta do ar com coração querendo falar “saudade”, “amor”, “não vivo sem você por perto”.

Mais do que palavra sem a tradução das línguas, saudade é o sentimento único que não mensura a força com que rasga o coração, a quilometragem que separa os corpos ou razão pela qual se manifesta; ligando os dias não muito distantes e de sensações que deixam resíduos. Todo mundo um dia já se sentiu assim, e é quase uma estupidez enganar-se de sua existência, fazendo com que "o longe" e "o perto" pareçam tão iguais e confundidos como pernas e estrelas.
A saudade é uma dor da espera, e nem é dor física, mas dói, dói pra caralho, e ora outra, uma voz, uma conversa, reler cartas, rever fotos, ameniza em doses homeopáticas essa dor, esse querer trazer de volta pra a realidade palpável e vivida.
Ninguém tem saudade de dor, de tapa, de grito. Ou como diria Neruda: "Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou". E é ela que nos faz aquela visita nas horas mais inoportunas, mais frias e vulneráveis, e só cessa - quando cessa - com retornos.

Mas a espera e o tempo, apesar de arrastarem arados, valem quando carrego essa ânsia, do melhor que está por vir; do momento exato em que em meus braços, terei de volta todo aroma que busquei durante dias na casa, na cama, no chuveiro, no terraço, nas ruas de SP, no sonho e na realidade.

E o melhor de tudo é que hoje, eu tenho mais dedos nas mãos, do que dias pra contar.

13 janeiro, 2009

Design #6

What really matters to you / me ?




We Think - Mass inovation, not mass production



*Design Sustentável
Há quem guarde o amor no coração, outros o digere e guardam no estômago, e até no nariz, quando sentem o cheiro e o gosto do amor.
Me perguntaram onde é que eu guardava o meu. Bem, eu guardo no sangue, ou pelo menos, tento. Mesmo sabendo que de vez em quando ele esvai. Ao menos ele percorre o corpo todo, o tempo todo, como o fluxo da vida.

Amor como hemácias, oxigênando.
Amor como plasma, coagulando.

Amor no sangue. Amor vital.



Onde você guarda o seu?

08 janeiro, 2009

Leitura #1

Começo aqui uma série de posts voltada pra leitura. O ano mal começou e eu já mergulhei em livros. Terminei dois livros em 3 dias - Entre quatro paredes - Jean-Paul Sartre e Malu de bicicleta - Marcelo Rubens Paiva.

Já comentei com o dono dos livros que esse último, a príncipio, havia me irritado. O protagonista é um galinha sem limites, um putão neurótico e reclamão, que no fundo, no fundo, era inseguro e não conhecia nada sobre as mulheres, ou melhor, conhecia tudo, mas só usava pra tirar proveito das curvas alheias; só pensava em sexo. E com aquela pontinha do feminismo a flôr da pele enquanto lia, torcia pra tudo dar tudo errado com ele.
Bom não vou falar muito, mas a história gira em torno da paixão dele por Malu, a carioca da bicicleta. Uma historia bonitinha, romântica, erótica, sórdida, cheia de contradições e boca suja, em um momento ou outro o personagem quase se redimiu pela minha afeição, mas ainda continuo achando que é um cuzão.
Posso dizer que gostei da disposção em que a história se desenrola, do humor de baixa categoria. Não conseguia parar de ler, e no fundo deixa o gosto (des)conhecido de amor, traição e confiança.

Malu costumava me olhar enquanto eu dormia, Só descobria quando abria os olhos surpreendendo-a. E cheguei a perguntar:
"O que você está vendo?"
"Você."
"Você não dormiu?"
"Não costumo dormir a essa hora."
"Ficou me vendo dormir."
"É."
"Por quê?"
"Porque é bonito."
"Eu dormindo?"
"É."
"O meu rosto?"
"Tudo. Você tem umas pernas bonitas"
"O que são pernas bonitas?"
"Assim. Branquinhas, fininhas, com estas pintinhas"

Passamos quatro noites naquele quarto. Contando pintinhas, catando cabelos, alisando sobrancelhas, deslizando o dedo em dobrinhas, procurando ler retinas, conhecendo as orelhas, escutando a barriga roncar, roendo cutículas, ouvindo os tons e escutando as batidas dos nossos corações. Trepávamos antes e depois do banho. E antes e depois de comer.

07 janeiro, 2009

Fotografia #2

One year in 40 seconds


por Eirik Solheim
Imagens e sons de uma mesma paisagem em Oslo, Noruega - captadas durante um ano, compiladas em 40s.

05 janeiro, 2009

Fotografia #1

Decidi abrir uma série de posts sobre um dos meus melhores passatempos (ou seria a melhor afeição?), a fotografia.

Certa vez questionaram-me sobre a desvalorização da pintura em relação à fotografia. Sem protelar, respondi: "O momento exato só pode ser registrado com a foto. A pintura sempre terá seu devido valor e beleza, mas é necessário a disposição de espaço, sentimento de quem o faz , tempo pra realiza-la. E talvez até o seu fim, ela poderá ser modificada. A fotografia não, é o momento exato das emoções, da sua história".

Há quem não goste de uma câmera apontada sobre o rosto e estampar um sorriso amarelado, mas a fotografia além de ter a função para identificar algo, seja ela pra fins legais ou culturais, é uma das primeiras coisas em que as pessoas se preocupam em não perder; evitando que as tragédias e os fênomenos climáticos destruam suas histórias - suas únicas lembranças de um passado retratado - que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.


Foto: 6pm - 7pm - 8pm [Summer]*
por May
*Essas fotografias, tiradas num breve espaço de tempo, são exemplos da transformação das coisas em nosso meio; a cor, o ângulo, os detalhes de uma mesma cena; o tempo que passa ou rostos que se modificam em frente à uma lente; das coisas inesperadas que estão prontas para serem registradas com seu próprio Feeling.

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